Lair Leoni Bernardoni
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Nasci num dezembro longínquo,
numa ilha enluarada quando a primavera exauria-se em perfumes.

Era o ano de 1938.

Em verdade ao deixar a ilha, ao tempo da aurora da vida,
nunca mais estive ausente.

Não porque a visitasse quando a saudade se agrandava dolorida.
Mas porque minha fidelidade à infância está além dos limites que a contém.

Ao partir menina, não deixei São Francisco nesse
mais de meio século de ausência.

Minha obra: nela estou pela herança artística do meu pai.

Nas paisagens, nas crianças, nas mulheres feito musas — eu que aprendi
tão cedo e brincando a tecer grinaldas de jasmins no caramanchão da
casa paterna à Rua Coronel Oliveira nº 12.

Lá, num domingo 18, no sol de dezembro se me abria o grande diafragma da vida!

Segundo mamãe, Frau Bubby, a parteira que atendeu meu nascimento
teria dito em alemão:

Flory, essa menina vai ser mais feliz do que costumam ser as pessoas.
Espera isso dela.

Eu havia nascido empelicada.

— Que anjo de asas largas me terá designado o Pai Celestial para que o meu percurso fosse tão profundamente vivido, tão intensamente sentido?

Pobre anjo esse que me ampara — só descansa quando a exaustão me vence, porque é preciso, eu preciso colher beleza enquanto dádiva ao leve toque do apertar um botão de câmera e aprisionar numa fração de segundo uma imagem que mostre além do rosto da superfície e onde nunca mais anoiteça — como escreveu generosamente o Bell.

Tenho o coração dilatado porque nele vou acomodando
os amigos que a vida me regala perdulariamente.

Amigos de todos os tons e alguns com verve e brilho como Sérgio da Costa Ramos que me vê francisquense, inteiriça, pairando no horizonte.

É dele: Ao som do mar Lair, luz grande angular ao luar.

E a isto some-se uma família linda: cinco filhos, oito netos e netas e um companheiro desde o primeiro olhar há mais de cinqüenta anos.

Minha vida com a fotografia tem sido de andanças, travessias, vôos largos, carimbos em diversos idiomas que todavia terminam sempre num lugar comum: a beleza é como o amor e a música: um idioma universal que todos entendem.

Passava dos meus quarenta anos quando o meu espírito inquietava-se por não haver ainda completado o mosaico que a vida a todos sugere compor.

Vinha tardiamente viver o processo da organização de mim mesma transitando entre a insônia e o sonho.

O desiderato: o que fizer, fazê-lo bem.

Do meu pai-pintor, a contemplação debruçada na beleza. (a menina que fui.)

Da minha mãe, o desafio, a tenacidade, o dever. (a mulher que me tornei.)

Na residência da luz, uma tensão lírica, um clique e me descubro fotógrafa.

Torno-me retratista.

Sou recém-nascida-adulta com sobrevida para o ato criador.

Descubro que as cores da paleta de meu pai estão impregnadas na retina, no coração, na alma, enfim!

Adiante caminho na paisagem.

Entremeio um modelo (quase um risco de bordado) e componho fluída uma imagem que se move.

Chego por fim à Natureza.

Enquadro na paisagem as ciladas da luz frágil.

Mapeio pelo olhar a carta celeste a que devo responder com um clique.

Aí reside a beleza, quase devoção, doada pelo Pai Celestial.

Em mais de vinte anos, essa sou eu.

— Quem negará das asas a vocação do vôo?

Nas décadas de 80 e 90 Lair integrou o elenco do The Image Bank sediado em New York , depois Dallas .

Suas imagens foram comercializadas em países do Ocidente e Oriente nas 76 sucursais que dispunha o Banco de Imagens mais famoso do mundo, até então.

No Brasil e no exterior, suas imagens espelharam capas de livros, perfumes, discos e peças publicitárias de grandes empresas.

Estendeu a capas de agendas, calendários, camisetas e outras publicações refinadas.

Única fotógrafa-mulher da América Latina nesse elenco criativo titulado com o The Best in The World.

Obras no acervo do Musée Français de la Photographie, em França.

O clã Bernardoni - Dezembro de 2004
O clã Bernardoni - Dezembro de 2004.
Família reunida - Dezembro de 2006.
Família reunida - Dezembro de 2006.
Família reunida - Dezembro de 2008.
Família reunida - Dezembro de 2008.
Noite de lançamento do livro Asas Azuis, Poema Alado - Museu de Arte de Santa Catarina - Florianópolis - Março de 2008.
Noite de lançamento do livro Asas Azuis, Poema Alado
Museu de Arte de Santa Catarina - Florianópolis - Março de 2008.
Noite de lançamento do livro Asas Azuis, Poema Alado - Museu de Arte de Santa Catarina - Florianópolis - Março de 2008.
Exposição 30 anos de Fotografia
Museu de Arte de Santa Catarina - Florianópolis - 12 de Abril de 2013.

 

 

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